Recentemente ao ler «Documentos Históricos da Cidade de Évora», da autoria do célebre historiador eborense, Gabriel Pereira,de 1885, encontrei esta interessante passagem, numa alusão indirecta à ancestralidade da festa brava no nosso Portugal:
«Estando um dia elrei vendo correr touros em Evora no terreiro dos paços, estava uma tranqueira mal concertada e com muita gente nella: e um touro muito bravo quiz sair por ella e a gente toda fugiu. Ficou sómente um homem que estava detraz dos outros embuçado com uma capa e um sombreiro: o qual levou da capa e da espada, e só às cutiladas muito valentemente defendeu a passagem ao touro e o fez tornar atraz...». Este excerto que aqui trouxe e foi registado por Gabriel Pereira, reporta-se aos inícios do séc. XVI. Numa época em que alguma opinião pública elevou a questão das touradas em Portugal e da sua legitimidade à ordem do dia, é interessante saber que estas mesmas têm em Portugal, pelo menos 5 séculos de história!
Com este facto, estou tentado a colocar a história e a tradição dum país em dois patamares diferentes: aqueles que, tendo uma história curta e recente, exploram todo e qualquer recanto patriótico e cultural que possam aduzir ao seu ainda limitado manual histórico e, depois os outros que, tendo uma longa tradição histórico-cultural, preferem desbaratá-la, como se tivessem vergonha das suas ancestrais origens....
Sem querer misturar as coisas e somar polémicas para a discussão, relembro que ter vergonha dos nossos políticos e do grau de desenvolvimento ecónomico-social do país não é incompatível com acarinhar as nossas tradições culturais, evidenciando assim, a nossa individualidade e riqueza etnossociológica.
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