Recentemente uma equipa conjunta de arqueólogos da Universidade de Calgary (Canadá) com investigadores locais da Universidade Eduardo Mondlane, descobriu numa escavação efectuada a uma gruta na zona de Ngalue, no noroeste de Moçambique diversas ferramentas de osso e pedra, depositadas em camadas cronologicamente datadas entre os 42.000 a 105.000 anos. Nas camadas mais antigas, sensivelmente com mais de 100 mil anos, o coordenador da equipa de escavação, o canadiano Julio Mercader, encontrou vestígios de amido em muitas das ferramentas recolhidas, oriundos esmagadoramente de sorgo. Mercader estabeleceu a ligação directa entre esta descoberta e o início do consumo de cereais pelo homem moderno, ou seja, há cerca de 200 mil anos.
A questão da da domesticação da paisagem e, nomeadamente das plantas e culturas, sofreu alguns reveses desde que é estudada. Por foi consensual durante muitos anos, senão décadas mesmo que a prática agrícola sistematizada e a consequente ingestão massiva de cereais teria acontecido há cerca de 9.000 a 11.000 anos. Em 2004, uns cientistas descobriram em Israel um lítico com vestígios de cevada e trigo, datado de há 23.000 anos. Com a recente descoberta de Mercader, antecipa-se alegadamente o uso de cereais na dieta humana em cerca de 80.000 anos.
Apesar da descoberta e da então criada tese de Mercader, parecem ainda existir dúvidas entre alguns dos seus colegas de profissão. Alguns criticam as associações directas entre os vestígios de cereais encontrados em líticos e o uso desses mesmos cereais na dieta do homem moderno. De qualquer forma, é irrefutável a importância da descoberta, não esquecendo que a Arqueologia é uma ciência humana, não exacta, que vive e cresce com processos evolutivos, muitos deles inerentes a novas técnicas, novos meios, novos sítios escavados, novas teses aventadas,.... um pouco como a medicina no avanço ao diagnóstico e tratamento de algumas patologias. Não se criou um dogma com esta recente descoberta em Moçambique, no entanto estimulou-se a discussão e antecipou-se pelo menos o uso de cereais em 80.000 anos, seja para consumo humano ou para outra finalidade qualquer.
É uma boa notícia para a Arqueologia Pré-Histórica, para a História em geral e, logo para o Futuro, pois não se pode imaginá-lo e determiná-lo sem que a História seja reconstruída.
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