O presente momento em Portugal é de crise económica, recheada de muita descrença e muita revolta pela ilusão que nos venderam nas últimas décadas e também de reduzido optimismo no futuro.
Lembrei-me por isso de sugerir aos compatriotas que se recordassem da história de Évora e das suas inúmeras batalhas e insurreições promovidas pela independência de Portugal. A cidade de Évora foi sempre um recanto de Portugalidade, de intrínsecos valores nacionais, da vivência da alma lusitana, mas sobretudo do saber ultrapassar grandes dificuldades pelo estoicismo, combatividade e solidariedade do seu povo.
Apesar de muito vetusto feriado e quase ignorado, o 1º de Dezembro é um dia de glória e repleto de história na cidade, pela galhardia com que, em 1638 se deu início às movimentações independistas face ao domínio filipino presente desde 1580. Conhecida como a Revolta do Manuelino, essa convulsão social que eclodiu na praça de Évora, acabaria por ter repercussões nacionais na luta pela restauração pela independência de Portugal.
Menos conhecido é o triste e pesaroso episódio do Saque de Évora, no contexto da Guerra Peninsular. Este trágico acontecimento datado de 29 a 31 de Julho de 1808, onde o exército napoleónico sitiando a cidade, avançou depois violentamente sobre a escassa resistência militar e popular de que Évora dispunha, arrasando tudo e todos sem misericórdia.
Além da inarrável violência acometida sobre os habitantes da cidade, foram constantes os seus roubos/pilhagens de praticamente todos os edifícios religiosos e públicos. Muitas casas particulares também não escaparam à ira francesa, contando-se inúmeras destruições ao património artístico-arquitectónico eborense, bem como atentados e sacrilégios contra o Santissímo Sacramento, já não para falar nas violações às mulheres, algumas de hábito e outros tantos atropelos à vida e direitos humanos.
No final deste fatal e ensombrado cenário, pouco restaria, não fora a coragem e o altruísmo de um clérigo eborense chamado Frei Manuel do Cenáculo. Este religioso, confrontado por um oficial francês, após esse tremendo morticínio na cidade, que lhe pergunta às portas da Sé em júbilo «Quem vive?», responde convictamente e despudoradamente, «A Força!».
Contado o episódio, parece natural assumir que, não obstante a grandeza das dificuldades e o número de obstáculos, os alentejanos com coragem, resiliência e solidariedade entre si, têm sabido debelar os problemas com que se têm deparado. Aos portugueses fica a mensagem, mas sobretudo o exemplo histórico de convicção e bravura, úteis para podermos projectar o futuro com outra perspectiva e optimismo.
Sabemos através da Memória Histórica que os nossos antepassados desde os mais longínquos tempos aos mais chegados, viveram em constante sobressalto pelas dificuldades inerentes à sua época, mas permeio essas vicissitudes souberam sempre sair juntos vencedores...
Após o novo orçamento para 2012, fica aqui a Dica da Semana.
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