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sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Liberalismos

Tenho acompanhado com alguma frequência as discussões do ADF sobre a questão liberal. De certa forma, senti que a questão do aborto também passou por aí entre os seus membros. Fiquei com a sensação que os seus participantes, sobre o pretexto do Estado intervir o menos possível e do indivíduo ser dono de si e do que decide fazer com o seu corpo, sensibilizaram-se neste referendo pelo Sim.
Relamente são estes os pressupostos essenciais de David Gordon, um ultra liberal note-americano. Mas curiosamente, também é ele que diz que o Estado "deve ficar confinado à defesa, protecção das pessoas e educação." Não seria neste ponto concreto, da protecção das pessoas que encontramos uma pecha na permissão dada à mulher de abortar sem um pretexto razoável e objectivo para o fazer, hipotecando uma vida inocente? Não será esta( o que a despenalização do aborto supõe nos moldes prescritos em Portugal) uma forma de o Estado se escusar a proteger o indivíduo?
O próprio David Gordon adianta mais dados para a discussão: " Um problema que eu identifico é que, actualmente , as pessoas tendem a ver os valores em termos relativos e subjectivos, acham que é algo que depende unicamente delas [nova achega sobre a problemática do aborto], que podem decidir sozinhas o que é certo ou errado. Para mim isto é algo que é estabelecido pela razão, pelo conhecimento. Não é aquilo que as pessoas acham."
Julgo que esta afirmação radica na questão dos direitos e da percepção dos mesmos por parte de cada indivíduo e da ameaça que surge na sociedade contemporânea de cada um não saber até onde vão os seus e quando estes colidem com os de terceiros!! O aborto não é um desses exemplos?
Como pensa o ADF sobre o assunto?

1 comentário:

  1. Frederico,

    Tu defendes a lei de 1984. Uma lei que permite o aborto em determinadas circunstâncias. Uma lei que decreta, de forma expressa, que a vida humana intra-uterina cede perante outros valores (entre os quais, se quisermos ser terroristas verbais, a perfeição humana). Uma lei que permite que a mulher aborte.

    Quando a lei permite estas excepções, não pode, continuar a dizer que o valor da vida humana intra-uterina não pode ceder sob nenhum pretexto. Não pode absolutizar o direito a viver.

    O passo seguinte, e é aqui que entra o discurso liberal, é saber quem é que tem legitimidade para decidir das excepções à lei.

    Quem defende a lei de 1984, acha que o Estado pode dizer "abortar de deficientes pode ser, mas abortar por estado de miséria já não pode ser".

    Eu não posso concordar com essa perspectiva. A partir do momento em que a vida humana intra uterina, afinal, não é absoluta, nunguém detém o monopólio da razão, do saber e da certeza, para indicar o aborto legal e o aborto ilegal.

    Um grande abraço,
    a.

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