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segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Rescaldo de uma morte anunciada

O movimento do SIM à despenalização ao aborto levou de vencido o movimento do Não. Em circunstâncias normais daria os meus sinceros parabéns, no entanto esta vitória, que o Sim obteve joga com a hipoteca da vida de seres humanos e, por isso, felicito-os por terem feito vingar as suas ideias, mas não os posso felicitar pelo o que aí vem doravante!
A vitória do Sim e os seus trunfos:
1º - Vingou entre a sociedade a ideia de que este Sim trazia consigo a modernidade e o progresso. Afinal, eramos quase caso único na Europa e. não estamos acostumados a estar isolados nas medidas que tomamos.
2º - Perpassou a mensagem de que a mulher, nao obstante as várias hipóteses dadas pelo quadro jurídico actual, é presa, criminalizada e marginalizada na sociedade.
3º - Criou-se a ideia( pelo BE, PCP e PS) de que teria de ser desta vez que o aborto seria despenalizado, salvo termos que ir a votos novamente ou então, à revelia do que o eleitorado tivesse decidido, o PCP persistiria a sua demanda pela despenalização, inclusivé na AR. Venceram também pelo cansaço do outro lado da barricada, deixando para ele( adeptos do Não) de que se não fosse agora, seria posteriormente "feita justiça".
4º - Imprensa. A esmagadora maioria do eleitorado português apenas tem acesso a televisão. Uma pequena minoria acede a jornais. Uma excepção vê internet e lê blogosfera. A Televisão foi toda ela pró-Sim mantendo a postura ancestral de que a Imprensa é intelectual, logo de esquerda, logo aqui pelo Sim. Os jornais tiveram opiniões diferentes: uns assumiram as suas matrizes fundadoras e seguiram uma posição pelo Não. Outros escudaram-se na imparcialidade jornalística para evitar assumir posições de princípio. O curioso é que esses, que sob a capa da isenção e rigor diziam não tomar partido, foram quem mais arvorou contra o Não. O "Público" antes da campanha começar já recebia dinheiro do PS para publicar as suas iniciativas, com claro apelo ao voto, facto este que motivou uma sanção da CNE e o "DN", esse pasquim, que a partir de hoje não posso chamar outra coisa, não fez uma capa onde não surgisse uma notícia negativa para o Não, salvo pequenas excepções publicadas no último mês. Mas eram ambos isentos e imparciais!!
Aqueles que, supostamente seriam os parciais, acabaram por ser os mais isentos de toda a campanha. No resumo final, a Imprensa nacional fez a direfença neste referendo.

4 comentários:

  1. Fred,

    Isso nem parece teu, não saber perder, e deitar as culpas na "imprensa"... A seguir vais dizer o quê? que foi culpa do Gato Fedorento?


    Para mostrar quão errada é essa linha de argumento, podia falar, por exemplo da diferença abismal de financiamento que o movimento do não tinha face ao do SIM, mas como sei que és uma pessoa informada, de certeza que foste ver os gastos declarados de ambas as campanhas, e sabes do que falo.


    Relativamente à imprensa, e para dar apenas um pequeno exemplo, que eu saiba nem a RTP, nem a SIC nem a TVI pediram desculpa quando passavam o tempo de antena do Não, ao contrário da radio mais ouvida em portugal, que tendo adoptado publicamente uma posição pelo NÃO, pedia desculpa antes dos tempos de antena do SIM...

    Para não falar por exemplo das Escolhas de Marcelo, o 5º programa mais visto da televisão e onde era feita a apologia do voto no Não.


    Mas se queres que te diga, nada disse me parece relevante.

    O Não perdeu porque não fazia sentido num estado de direito, criminalizar uma prática do foro intimo e não dar opção à mulher que não o aborto clandestino.

    O Não perdeu porque não teve uma campanha coerente, porque o não encerrava em si desde os radicalmente contra todo o tipo de aborto e pró criminalização(e na minha opinião os unicos coerentes)aos assim não porque o aborto é uma coisa horrivel, mas não devia acontecer nada a quem o faz num sitio todo badalhoco.

    O Não perdeu porque, como mostra a participação de apenas 12% até ao meio dia, o eleitorado conservador se absteve massivamente, claramente pela falta de liderança do movimento.

    Não culpes agora as capas do DN ou a campanha obscura do Público, e aceita a derrota como o SIM aceitou há 9 anos.

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  2. Vamos por partes!
    Primeiro gostaria que se apresentasse, pois para me tratar por tu é porque me conhece.
    Como eu não sou adivinho, pelo menos agora tratá-la-ei por você.
    Em relação ao mau perder, era já suposto que os defensores do Sim, que tantos anos esperaram por este momento, aproveitassem qualquer "laracha" dita por um defensor do Não neste referendo, para virem logo apressadamente com essa santa resposta. Mesmo que somente tivesse dito: Parabéns. É a democracia!! A sede de vingança era tanta que diriam logo, olha o hipócrita. Não vale a pena insistir mais nesse ponto.
    Sobre a Imprensa. É ou não verdade que existe essa total supremacia de esquerda na imprensa nacional? Não espero outra resposta que não seja favorável a este indiscutível facto. Criou-se desde o tempo da Revolução Francesa, em Portugal, a ideia de que Esquerda era pensadora e intelectual que, quase numa atitude paternalista, a defensora das classes oprimidas. Ora a imprensa não deixa de ser um espaço por excelência de opinião e discussão. Um sítio de reflexão e de introspecção. Não é difícl fazer a dedução: Imprensa = Pensamento/Crítica=Intelectual= Esquerda. E esta falácia tem vingado na nossa mentalidade e sociedade ao longos de várias décadas, para não dizer mais de 2 séculos. Foi a Imprensa da Iª República que ajudou a maçonaria e os socialistas a implementarem o sentimento Republicano nas grandes aglomerações urbanas de Portugal. O Estado Novo de Salazar ainda enfatizou mais essa ideia errónea de que a Esquerda era mais defensora da liberdade individual e de pensamento(curiosamente o contrário tem sido um dos grandes defeitos da Direita Portuguesa). Chegamos a um período da IIIª República que o/a desafio a dirigir-se a uma faculdade que leccione o curso de jornalismo e inquira os seus discentes! Adivinho, aqui sim, do ponto de vista político-partidário, um resultado algo desiquilibrado.
    Em resumo, são esses jornalistas que ao longo destes 9 anos, foram dando espaço de antena, quase exclusivo para a propaganda sobretudo de BE e PCP sobre a alegada injustiça social de mulheres criminalizadas e, a espaços lá íamos nós, púdicos leitores, mas sobretudo telespectadores( porque na intenret e blogosfera o panormaa já é outo, mas a nossa população apenas tem oportunidade, na sua maioria, de aceder à Tv e, alguma aos jonrais) ficando submetidos ao critério jornalístico das suas prioridades. Quantas vezes não foi dado tempo de antena às inicitivas da Dra. Odete Santos junto de tribunais onde teriam sido julgadas mulheres ( e parteiras) por realização de um aborto? Quantas vezes ouvíamos a agenda política do BE, onde assumia como sua prioridade política( isto pós referendo de 1998)a despenalização do aborto em Portugal? É fácil para a Esquerda fazer passar a sua mensagem junto da opinião pública, ao contrário do que se passa com a Direita e com a sua agenda política. Penso que também concordará comigo neste aspecto visto ser tão visível no nosso panorama.
    Voltado ao centro da discussão, sobre este Referendo, também anuo consigo que os movimentos do Não, em muitos momentos perderam razão pelas opiniões e argumentos que evocaram, claramente. Mas a vitória foi mais do Sim, do que uma derrota propriamente dita do Não. O Não tinha como garantida essa derrota, ao Sim competia-lhe não deixá-la fugir novamente. E essa foi a sua vitória.
    Sobre a imprensa e o que ela fez, não nego que da parte daquela que asumiu o Não houve excessos no entanto ela foi honesta ao dizer qual era o partido que tomara evitando confundir ou defraudar os seus leitores/ouvintes. Assim só compram ou ouvem se quiserem, pois sabem com o que contam. Mas pior são aquelas que não tomam um partido formal, dando uma sensação de isenção e imparcialidade, quando depois o que veirficamos são outras realidades. E aqui enunciei os exemplos do "DN" e o "Público". Se eles tivessem asumido a sua linha editoriaL, hoje não estaria aqui eu a condenar a sua atitude. Foi isso e somente isso!!
    Para concluir eu aceito a derrota enquanto cidadão, mas dizer-me que o deverei fazer como o Sim fez há 9 anos é dizer-me que devo lutar por tudo para que daqui a outros 9 possamos ter novo referendo para tentar alterar o que neste foi permitido, pois foi precisamente o que o sim fez há 9 anos atrás. Trocando por outras palavras, não asumiu a derrota que aqui me conta.

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  3. Fred,

    Por partes:

    Em primeiro lugar um mea culpa por não ter assinado, por alguma razão, provavelmente fruto da minha pouca literacia tecnologica, as minhas iniciais foram substituidas pelo meu nick...
    Em segundo lugar, existe de facto uma noção em Portugal que a imprensa alinha mais à esquerda, e isso pode ter sido verdade em tempos, contudo, actualmente não me parece que seja assim, devido sobretudo a um envelhecimnto da classe jornalista e à sobrevalorização do jornalismo de opinião.
    Vou, no resto, encerrar a discussão por aqui, e espero Não, que na sua maioria respeito, apesar de não entender a posição que assumem, se continuem a dedicar ao apoio ás mulheres gravidas que desejam de facto levar a gravidez até ao fim e no apoio das crianças que nascem num quadro social e economico desvaforavel. E que respeitem todas as outras, que decidem por razões economicas, psicologicas ou sociais, interromper a gravidez.
    Um beijinho
    Sara Piteira

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  4. Viva Sara! Muito bem-vinda a este blogue. Aparece sempre.
    Quanto à classe jornalista, renovo o desafio que te fiz de inquirires os actuais estudantes de jornalismo e ocmunicação social para sentires que esse sentimento é inerente a uma mentalidade ancestral que não muda repentinamente!!
    Acho que o Não nalguns casos foi muito pouco objectivo e mostrou, por isso pouca consistência e muita ansiedade. Isto à parte das razões fundamentadas que distam o Não do Sim. Acabou o referendo com a vitória do Sim e isso deve-se respeitar. Mas respeitar não é passar uma esponja sobre assunto como se Portugal fosse um país ímpar e exemplo nesta matéria e sem que tenha que cumprir determinados requisitos para evitar excessos numa Lei,na sua essência tão fracturante como a que aívem.
    Volta Sempre, pois és muito bem-vinda!!
    Beijinhos

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