Poderia ser um tema em discussão aquando das lutas fraticidas e purgas políticas no PCP, até Jerónimo de Sousa ter feito vingar a ala ortodoxa do partido, mas infelizmente não é este o tema sobre o qual discorro seguidamente.
Deixo aqui então apontamentos à leitura que faço sobre a conjuntura actual do CDS:
1º - O CDS-PP vive uma realidade nova com a ascensão meteórica daquilo que, nunca ninguém ousou dizer: da "Ala Homossexual" do partido que se conota ou veícula regularmente com a tão propalada "Ala Liberal". Mutatis mutatis, diríam uns, eu diria que uma é a causa da outra.
2º - Esta tomada de poder não é inocente, nem única. Vive-se precisamente o mesmo junto da comunicação social portuguesa, sem prejuízo ou censura alguma, obviamente. O próprio Dr. Alberto João Jardim comentava esse facto recentemente.
3º - Ninguém tem culpa da sua condição social, individual e, neste caso sexual, nem tampouco deve senti-lo. Num partido as opções sexuais ,que se saibam são do âmbito pessoal e/ou particular. A questão desse mesma ala existir no seio de um partido conservador é que pode já causar alguns pruridos ou até algumas incompatibilidades. Isto porque perpasssa muito a ideia de que, num partido, que até à data se apresentava aos eleitores como conservador, cantando em bloco e uníssono contra a despenalização do aborto, intolerável contra a despenalização das drogas e pouco aberto a uniões de facto, bem como a adopções por casais homossexuais, ser liberal pressupõe também sê-lo socialmente e, por isso permitiria defender tais bandeiras. Não estou, londe disso, a dizer desta forma que o Dr. Adolfo Mesquita Nunes seria homossexual por ter defendido a despenalização do aborto, ou mesmo fazer idêntica alusão ao Dr. Pires de Lima por aceitar as uniões de facto enquanto democrata-cristão. O que concluio é que Democracia-Cristã vs este Liberalismo inédito são, na minha modesta opinião inconciliáveis. Seria como tentar juntar água com azeite!!
4º - O que se passou doravante foi uma tentativa de muitos liberais tentarem justificar (com algum sucesso e, evoco como exemplo a participação e alocução do Dr. Pires de Lima no último congresso do CDS-PP, com a criação das tendências políticas, com absoluto conhecimento e prévio beneplácito do Dr. Paulo Portas) a sua presença no seio de uma família conservadora e democrata-cristã numa versão ad-hoc, insinuando aos mais atentos as suas pseudo coerências em resistirem ficar. Melhor falando, já se pode ser homossexual no CDS, sem que isso resulte num ironia ou incongruência ideológica com a família política integrada.
5º - Também admito que este "assalto"também tenha outro propósito (sem prejuízo da clara intenção que já aflorei): abrir o partido às "massas". A ideia seria criar uma versão moderna da Social Democracia Portuguesa onde caberíam todas as tendências e sensibilidades e que, por mais que fossem uma autêntica manta de retalhos poderíam conviver pacificamente entre si.
6º -Os tempos modernos do CDS caminham a passos largos para a afirmação do título do artigo, «A malta é fixe! A ideologia que se lixe». O tempo urge e o partido, outrora conservador, passará a ter, num processo único, progessista e extravagante( vidé rocambulesca reeleição do Dr. Paulo Portas, sem que o Dr. Ribeiro e Castro, por exemplo, tenha sido sequer sujeito a qualquer eleição), uma alma nova com outras conotações.
7º - Conrad Adenauer, fundador da Democracia-Cristã no pós guerra de 45, tinha uma visão muito sui generis da sua dama. Também suponho que o Prof. Adriano Moreira, o falecido e saudoso Adelino Amaro da Costa e, até o Prof. Freitas do Amaral não pensassem ou pensem( no caso do Prof. Adriano) de acordo com estas novas tendências!!
8º - O PP de Espanha, nem na sua velocidade cruzeiro dos superávit económicos de Aznar arriscaria tamanha façanha, nem a CDU de Angela Merkel prevê mudar os seus cânones ideários.
9º - Chegou ( dou-o como facto consumado) um novo CDS que proximamente deverá também repensar a sua sigla.
Mas este CDS que chega refundado, é um CDS que carrega, desde já, o ónus da derrota de Democracia-Cristã em Portugal, incapaz que foi de granjear outro eleitorado pela afirmação dos ideias da sua génese. Optou pela via mais fácil, diria eu.
10º -Ainda tinha esperança, enquanto ex-militante, de me reaproximar do verdadeiro CDS, no entanto a vitória do Dr. Paulo Portas, mas sobretudo os meios que o mesmo empregou para dispôr do poder, ou seja, para obter os seus fins ( que transformariam Maquiavel num petiz a seu lado), julgo que essa seja uma árdua tarefa, pouco viável ou exequível. A tenaz e dura luta dos arautos da "modernidade" no CDS, parece ter surtido efeito junto dos mais incautos e saudosos defensores do ideário conservador do CDS.
11º - Relembro aqui numa mensagem quase digna de epitáfio, o mítico PDC - Partido Democrata Cristão, um derrotado é certo( inclusivamente pelo velho CDS), mas uma verdadeira árvore da coerência política, nunca se afastando das suas densas raízes e morrendo de pé.
12º - Nem sempre a História dos Vencedores é o triunfo da justiça e da moralidade. Há sempre algo que fica por contar
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Desculpem-me morosidade do texto e do sentimento, mas houve algo que me chocou profundamente enquanto cidadão português, mas sobretudo enquanto democrata-cristão ao presençear a morte desse modus vivendis no panorama político português.
São estes escritos, puros devaneios quiçá, de um rapaz de província, afastado do bulício das grandes cidades...